Preparem seus lenços, porque as eleições presidenciais no Irã desta sexta-feira, dia 28, prometem ser uma aula magna de como a democracia pode ser uma peça de teatro perfeitamente ensaiada. Uma coisa é certa: o grande vencedor da noite será, sem nenhuma surpresa, o candidato que melhor representar a incansável teocracia islâmica, diligentemente presidida pelo líder supremo Ali Khamenei. Atemos os cinturões, porque a vontade popular já foi jogada para fora desta corrida.
De acordo com uma reveladora pesquisa do instituto holandês Gamaan realizada em junho, cerca de 65% dos iranianos anunciaram que não vão nem perder tempo votando. Apenas 22% disseram que planejam aparecer, talvez para garantir que seus votos alinhados com o sistema sejam devidamente contados.
E por que tanto desinteresse? Ah, as razões são tão saborosas que chegam a lembrar uma novela: 68% dos abstencionistas simplesmente não querem saber do sistema da República Islâmica, enquanto outros 8% estão decepcionados porque o seu candidato dos sonhos foi, acreditem se quiser, desqualificado.
Apenas Candidatos Oficiais – Como Sempre
A teocracia iraniana, bem consciente de sua impopularidade, executou magistralmente suas mágicas eleitorais para garantir que nenhuma faísca de verdadeira democracia viesse a iluminar essa eleição. Afinal, eles precisam manter a tradição que outros conterrâneos de ideologias semelhantes também seguem à risca, como na Venezuela e em Cuba (diga-se de passagem, dois expoentes na arte de controlar eleições).
Lá em Cuba, é claro, só membros do Partido Comunista têm o privilégio de concorrer. Com nenhuma alternativa legalizada, a nova Constituição de 2019 sutilmente lembra aos cubanos que “A defesa da pátria socialista é a maior honra e dever supremo”. E, invariavelmente, “O socialismo e o sistema político e social revolucionário são irrevogáveis”. Um show de democracia!!
No glorioso Irã, a prática segue uma linha parecida: apenas candidatos santificados pelo Conselho dos Guardiões da Constituição têm a honra de disputar. E entre os seis escolhidos, nenhum ousaria contrariar o regime. Se fosse teatro, já teríamos a crítica pronta: elenco homogêneo, nada de inovação.
Um Mundo de Conspurcação Democrática
Na Venezuela, como num script com falhas, um candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, milagrosamente conseguiu seu lugar na corrida, liderado por María Corina Machado. Ele aparece com 61% nas pesquisas, enquanto o sempre replicável Nicolás Maduro não alcança mais que 10%. Mas não se preocupe, a criatividade venezuelana vai a extremos: a foto de Maduro aparecerá treze vezes na cédula de votação, enquanto Urrutia será representado apenas uma única vez, uma vez que primária é quase sinônimo de singularidade.
Se a Venezuela realizar eleições limpas no dia 28 de julho, Urrutia vencerá de forma avassaladora. E, ousamos dizer, o mesmo aconteceria no Irã e em Cuba, caso permitissem um resquício de jogo justo.
Admirável, porém, o quanto as ditaduras são versáteis ao esconder a vontade popular. Selecionar candidatos “apropriados” é apenas um dos inúmeros “truques de mágica” da cartola repressiva.
Preparem as pipocas, porque a teocracia iraniana nos brinda, mais uma vez, com uma performance eleitoral digna de um espetáculo de marionetes.