-Por Ricardo Felicio
Quando observamos as notícias sobre as tais “mudanças climáticas” somos sempre conduzidos a refletir que os relatos dos tais cientistas climáticos têm ampla aceitação e que suas colocações possuem um embasamento científico muito bem fundamentado. Não só isto não é verdade, como também a própria proposição de que haja a tal mudança ou alteração. A condição piora quando afirmam que ela é provocada pelas atividades humanas no planeta, incluindo as de sobrevivência.
Por estas e outras é que sempre utilizaremos este termo com aspas, tendo em vista que o clima, em sua definição mais básica, incorpora a sua própria variabilidade, alterando-se em diversos estágios e períodos. O resultado desta imprecação da fantasiosa relação homem e o clima surge especialmente do fato de que muitos destes ditos, cientistas climáticos, sequer serem ou atuarem profissionalmente nesta área, especialmente no setor operacional.
E o que dizer do que vai acontecer no futuro? De certo que está é uma história antiga e remete ao desejo humano de procurar alguma previsibilidade sobre o meio natural. Assim, entender os fenômenos na forma de criar metodologias que indicassem os estágios futuros seria um grande trunfo sobre vários aspectos e com múltiplos fins. Este objetivo não se encerra apenas à atmosfera, mas de tudo que envolvesse o universo.
Neste amplo pacote temos o movimento dos astros, as fases lunares, o movimento das marés, a alternância das estações sazonais, entre muitos outros, chegando aos mais complexos como a formação de nuvens, as combinações fractais etc. As aplicações seriam inúmeras, tendo em vista que a previsibilidade indicaria uma probabilidade maior da ocorrência ou repetição de fenômenos. No caso da Climatologia, em amplo espectro, ou da atuação da Meteorologia, com norteamento mais prático, teríamos desde o planejamento de uma safra, ao controle de barragens para geração de energia elétrica e armazenamento de água.
Contudo, desde tempos remotos, ficou muito claro que alguns elementos apresentavam padrões muito bem definidos, mas outros, embora repetitivos, traziam algumas características semelhantes, todavia não exatamente as mesmas quando se repetiam. Podemos entender bem os diversos ciclos das marés, mas as estações sazonais e os “devaneios” atmosféricos que as envolvem ainda estão longe de serem totalmente compreendidos.
Em uma visão mais sistêmica, neste ponto que se separam os conjuntos de fenômenos ou grupos de fenômenos que se enquadram de baixa complexidade e os de alta complexidade. Os sistemas naturais terrestres entram no segundo grupo, sendo os que envolvem a atmosfera, sua dinâmica e interações endógenas e exógenas, classificados como de complexidade bastante elevada.
Sob o aspecto da forma de atuação e da previsibilidade, os fenômenos observados na natureza também se dividiam em dois grandes conjuntos: os que apresentavam um padrão muito mais mecânico, cuja repetição é grande, muito mais sincronizada e outros que, embora pudessem ser classificados por reconhecimento, tinham apenas alta probabilidade de repetição dos padrões descritos para esta mesma classificação.
Como exemplos, poderíamos incluir o movimento das estrelas, do Sol e da Lua como pertencentes ao grupo que se encaixaria no conjunto dos mecânicos, como descreveria Newton, mas as estações sazonais do ano, embora repetitivas como as horas de um relógio, pois são afinadas com o movimento também mecânico do planeta, apresentam em um determinado lugar, singularidades entre verões, outonos, invernos e primaveras, onde os padrões de quadros do tempo meteorológico apresentarão probabilidades, maiores ou menores de ocorrerem. Assim sendo, é possível elencar que, para o segundo conjunto, outros fatores, conhecidos ou não, estariam a influenciar na determinação do resultado o qual se esperava, exatamente como descreveria o patrono da Meteorologia moderna, Edward Lorenz.
Se mantivermos ao máximo o rigor das definições, poderemos elencar, de forma mais simples e resumida, qual é a compreensão humana sobre a previsibilidade dos fenômenos da natureza. Notadamente, a ideia de previsibilidade pode se encaixar em um dos três grandes grupos: os que podem ser muito previsíveis, os que podem ser estimados e os que se suspeita que possam ser simulados. Desta forma, tais grupos acabam definindo-os como previsões, prognósticos e cenários, respectivamente. Vejamos cada uma destas definições detalhadamente para que possamos adquirir um arcabouço teórico de forma a entender a nossa questão inicial.
A Previsão:
Primeiramente, a mais assertiva é a previsão. Este termo deve ser utilizado para os fenômenos, de origem natural ou não, que possam ser descritos de maneira fidedigna, onde a margem de erro é zero ou praticamente muito próxima disto. Desta forma, podemos dizer que o fenômeno em questão tem a sua natureza muito bem observada, reconhecida e descrita, bem como muito bem teorizada e que a sua realização seja confirmada, dentro das condições iniciais. Isto permite a possibilidade até mesmo da sua representação de forma matemática por uma equação ou conjunto de equações que envolvam a variável tempo.
Um exemplo bem representativo deste conceito é a noção da velocidade de um objeto. Se esta é descrita como o espaço percorrido dentro de um tempo, ambos bem determinados, então se torna possível estimar com boa fidelidade onde o objeto estará em outros determinados tempos no futuro. A viagem de automóvel ou de um avião poderia se enquadrar nesta categoria, se as condições iniciais forem preservadas na sua plenitude, ou seja, a previsibilidade de se alcançar determinado lugar ocorrerá precisamente (ou muito próxima disto) se nada de estranho ocorrer ao sistema (congestionamento, falta de combustível, desvio de rota, troca de um pneu etc.). Inclusive, se estes “elementos perturbadores” também forem computados, a nova estimativa continua a ser uma previsão.
O Prognóstico:
Quanto ao segundo conjunto, o nível de incerteza, antes considerado inexistente (zero) ou desprezível, passa a ser considerável, inclusive determinando, por mais contraditório que possa parecer, a sua própria existência. Assim, um fenômeno natural ou não, que possuir outros fatores, determinados ou indeterminados, os quais possam interferir na sua suposta previsibilidade, criam então um conjunto de probabilidades. É certo que o exemplo anterior que envolve as viagens poderia se encaixar nesta condição, mas em essência, a diferença para o caso dos probabilísticos é que no âmago da sua existência, já estaria implícita a ideia de não se ter o total conhecimento, ou controle, ou ambos sobre o fenômeno em questão.
Como exemplo, poderíamos utilizar o lançamento de dois dados, não viciados. Quais seriam as probabilidades de se obter os valores de dois a 12 em um lançamento, dez, 100 ou 1000? Poderíamos anotar os resultados, classificá-los em conjuntos de ocorrências e depois plotá-los em gráficos. Se repetirmos a experiência, veríamos que os resultados tendem a ser muito parecidos, mas não idênticos. Neste caso, concluímos que as probabilidades de ocorrências semelhantes nos permitem criar uma expectativa de resultados. Notemos que não há em essência uma previsão, mas um prognóstico, ou seja, uma boa chance de algo ocorrer ou não.
No caso do tempo meteorológico, a complexidade é enorme, pois as condições que envolvem a atmosfera da Terra, incluindo seu próprio tamanho e interações, também o são. Assim sendo, as observações, descrições e teorizações sobre a atmosfera refletem essa mesma vastidão. Esta dificuldade se inicia no processo de se retratar a atmosfera sobre um determinado lugar, pois envolve uma gama enorme de parâmetros para se estabelecer simplesmente o seu diagnóstico, ou seja, o que está acontecendo naquele exato momento. Se este procedimento é complexo, a dificuldade é muito maior em se estabelecer um retrato desta mesma atmosfera no mesmo lugar em um tempo cronológico diferente, mas em sentido ao futuro. A este novo “retrato” também denominamos de prognóstico, ou seja, a probabilidade de tal situação ocorrer está ligada a um conjunto de fatores que podem se alterar de forma mais ou menos previsível, conforme se passam as horas.
Os quadros meteorológicos trazem mais agravantes para o prognóstico, pois não somente o tempo cronológico é relevante, mas também o tamanho da área que recebe a ação do resultado final elencado. Há situações em que o prognóstico terá 100% de acerto. Por exemplo, pode-se observar o céu ao redor de uma residência e, com algum conhecimento, afirmar que nos próximos dez minutos o tempo será ensolarado, sem nenhuma precipitação. Contudo, não se pode garantir com essa mesma convicção qual será a situação para o mesmo lugar para daqui cinco dias, sem acessar outras informações.
Isto indicou que no alongar do tempo, outros retratos se tornam possíveis no horizonte de eventos. Se a categoria tempo aumentou a complexidade, a situação piora quando aliada à categoria espaço. Se a área de controle para o prognóstico é maior, certamente mais elementos devem ser levados em conta. No processo, o conjunto de incertezas começa a aumentar significativamente e, portanto, as possibilidades de ocorrência de um prognóstico começam a diminuir. Certamente um novo quadro irá surgir na linha do horizonte, mas não foi aquele em que se criou a expectativa inicial. Por isto que os prognósticos são probabilísticos. Eles erram e são limitados. No caso, estamos retratando as condições do tempo meteorológico que se encerram em um determinado espaço e tempo.
No caso do clima, a sua suposta classificação envolve as condições geográficas e a sucessão de centenas de quadros meteorológicos habituais sobre os determinados lugares. Isto aumenta a complexidade de se estabelecer um novo retrato climático (e não meteorológico) no futuro. Pode-se estabelecer o clima de certos lugares e regiões, mas sempre se entende, ou pelo menos dever-se-ia entender, que há uma variabilidade ligada intimamente ao retrato ou diagnóstico estabelecido para estas áreas.
O imaginado retrato climático para o futuro é praticamente incerto porque as variáveis que o envolvem não são totalmente compreendidas no momento atual, quando não impossíveis de serem estabelecidas, piorando se o tempo cronológico for muito alongado. Além disto, estes mesmos processos, uma vez supostamente entendidos, precisam ser transformados em equações matemáticas de forma que a variável do tempo cronológico permita a interação entre os sucessivos retratos. Neste ponto, duas questões tornam-se importantes:
1) As observações e descrições permitiram teorizar, de maneira objetiva, o desempenho da atmosfera de forma a se estabelecer quem e o que determina as suas condições?
2) Há pleno entendimento de cada um dos elementos que fazem esse processo e todos os seus estados, momento a momento, lugar por lugar?
As respostas para as questões são negativas pelo simples fato que não sabemos sequer determinar o clima dos lugares com certa precisão no exato momento atual, pois envolvem de antemão a questão da alta mobilidade da própria atmosfera.
Edward Lorenz, em 1994, levantou essa questão da previsibilidade dos processos atmosféricos como seu tema principal na obra “Climate is what you expect”. O autor argumentava partindo da definição mais básica de clima como algo essencialmente dinâmico e variável. Sendo assim, falar em “mudanças climáticas” perde todo o sentido, pois o conceito de mudança estaria implícito na própria ideia de entender o que é clima.
No tocante ao entendimento da previsibilidade do tempo meteorológico, que é outra questão, Lorenz recorria constantemente à outra explicação básica: se não conseguimos registrar todos os processos atmosféricos com perfeição, ponto a ponto, em resolução total, então é impossível prever os estados subsequentes, uma vez que os erros se amplificam com o passar do tempo cronológico.
O Cenário:
Se a previsibilidade do tempo meteorológico já não é uma tarefa simples, ela se torna impraticável no que se refere ao clima. Se não conseguimos estabelecê-lo com exatidão em seus determinados lugares, justamente pela sua dinâmica que envolve seus processos internos e externos, qualquer tentativa de realizar um retrato de seu futuro deve ser encarada como uma projeção de cenário.
Um cenário é uma suposição totalmente hipotética que tenta estabelecer um retrato de futuro, baseado no que se imagina conhecer sobre o processo que vai levar a tal resultado figurado. Pela própria definição, fica evidente que tratamos com um universo de incertezas bem maiores, as quais o entendimento está no limiar do conhecimento, beirando muito mais às suposições, especulações e abstrações do que aos fatos reais ou mais concretos. Alia-se a isto o desconhecimento dos processos inerentes envolvidos e suas representações matemáticas, as quais também entram na listagem de incertezas.
Muitas destas mesmas representações podem se basear em hipóteses não verificáveis no mundo real. No caso em voga que se refere ao clima, a situação é bem pior do que a maior parte da população do planeta imagina, pois a tal “ciência climática” traz o engodo em sua bagagem. Os cenários climáticos elencam as piores hipóteses possíveis como, por exemplo, tratar a atmosfera como uma estufa (a casa de vidro) e equacionar que a temperatura do ar está intimamente ligada à presença de dióxido de carbono (CO2), ou pior, que este gás é determinante para o clima do planeta, algo que sequer tem definição real. Tais premissas não são observadas no mundo real, sendo a segunda, sequer verificável na História da Terra. Elas são simplesmente falsas.
Ressalta-se que a cenarização não é exclusividade da “climatologia” e como este tipo de trabalho permite muita margem para especulações, o leque de “resultados” também será amplo, especialmente se a complexidade do problema for maior. Como o número de incertezas passa a ser enorme, um cenário apenas não basta, portanto, diversos cenários são simulados, listando o maior número de possibilidades em resultados, sempre atrelados aos parâmetros iniciais estabelecidos.
O produto final de todo este trabalho de simulações será uma coleção de retratos infindável que responderão à lógica imposta pela hipótese a qual se fez a referência inicial. Fatalmente, um destes cenários poderá responder a uma realidade do futuro, mas isto não significa que a hipótese empregada na geração dos cenários está correta, exatamente porque embora um cenário possa acertar, todos os outros erraram magistralmente, indicando categoricamente, o desconhecimento do processo que foi tratado pela mesma hipótese geratriz. Em outras palavras, a hipótese é falsa.
Para piorar, muitos dos cenários serão dirigidos para centrarem-se ao redor de certo resultado esperado, mesmo com a debilidade da hipótese. Isto se consegue com fórmulas de truncamento que limitam algumas extrapolações, construindo uma falsa credibilidade aos retratos dos cenários, aproximando-os muito do padrão conhecido do objeto em voga.
Notemos que a criação de cenários não passam de meros exercícios de divagação, baseados em modelos de mundo natural ou artificial que não condizem com a realidade, simplesmente porque a plenitude desta realidade não é totalmente tangível. Cenários foram criados para imaginar a escalada da “Guerra Termonuclear Global”, do mercado de ações e, há mais de 40 anos, o clima planetário. Nenhum destes foi eleito certo. Qualquer portfólio acionário lhe informará que “rentabilidade do passado não é garantia para rentabilidade do futuro”, pois um conjunto desconhecido de variáveis poderá interferir no resultado do padrão da curva de investimentos que extrapolam simplesmente “o bom caminhar de uma empresa”, como por exemplo, as políticas de um governo, terrorismo, um judiciário ativista ou uma histeria coletiva pandêmica.
Desta forma, as chamadas “mudanças climáticas” não são previsões e sequer podem ser consideradas como prognósticos. São apenas de cenários muito mal elaborados, cujos objetivos nunca foram estudar a variabilidade do clima terrestre, mas “provar” que o homem muda este mesmo clima, através destes cenários irreais, controlados pelo dióxido de carbono em uma atmosfera que não funciona como estufa. Não só isto torna o caso climático gritante, onde a prova de uma hipótese é o modelo desenhado para ela, mas especialmente porque após mais de 40 anos de simulações, os modelos climáticos continuam a errar, sempre esquentando o planeta mais do que a realidade.
As afirmações do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC) sobre o que o clima será ou qual temperatura terão em 2100, 2500 ou os absurdos 3000 não passam de suposições fantasiosas, cuja hipótese não é verificável. O IPCC, através de seus cenários, não faz climatologia, faz meros exercícios computacionais de modelos que não sabem representar o mundo natural. Seus resultados são tão possíveis quanto os que surgirem de uma bola de cristal. Por isto, ao invés de se perder um tempo imenso em querer “prever” o que o clima será, deveríamos antes saber o que o clima é, tarefa nada trivial. Quando voltamos para a nossa questão inicial sobre qual é a realidade climática? A realidade é que não sabemos!