Na esteira da reeleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, o cenário político internacional antecipa uma série de mudanças significativas que poderão impactar profundamente o Brasil. As eventuais consequências dessa transição política não se limitam apenas às relações bilaterais, mas também podem reverberar na política externa brasileira e, de maneira mais ampla, no próprio arcabouço estatal do país. O cenário ganha nuances ainda mais complexas com a possível consolidação da maioria Republicana na Câmara dos Representantes, que já controla o Senado.
O Partido Republicano, de tradição Realista nas Relações Internacionais, busca a segurança e poder através de uma política externa fundamentada na competição e anarquia entre os Estados. Assim, os Republicanos tendem a incorporar características pragmáticas e aversivas em relação a países e governantes que desafiem os princípios e interesses dos EUA. Esse traço particular pode desenhar uma via de antagonismo entre a administração Trump e a política externa conduzida pelo governo brasileiro sob Lula e Celso Amorim.
Impactos nas Relações Bilaterais
No campo das relações Brasil-EUA, uma eventual animosidade entre Brasília e Washington poderia resultar em medidas como a redução ou suspensão da cooperação militar, afetando as Forças Armadas brasileiras, que atualmente se beneficiam de programas como o Foreign Military Sales. Leis recentemente propostas por figuras como os deputados republicanos María Elvira Salazar e Darrell Issa sugerem um endurecimento na postura contra agentes estrangeiros que violem direitos fundamentais, o que pode incluir restrições de visto e sanções a autoridades brasileiras acusadas de condutas ilegais.
Perspectivas Regionais e Globais
Regionalmente, as tensões podem intensificar-se com a possível postura intransigente de Trump em relação à Venezuela de Nicolás Maduro, potencialmente isolando ainda mais o Brasil de seus vizinhos sul-americanos, enquanto favorece alianças como a do presidente argentino Javier Milei. Em um contexto mais amplo, poderia também prejudicar ainda mais as fracas relações com Israel, deterioradas durante o governo de Lula, especialmente após ações como a suspensão de um projeto estratégico do Exército Brasileiro em outubro, envolvendo uma empresa israelense.
Em relação à China, se as políticas de Trump promoverem uma desaceleração econômica significativa, o Brasil poderá sentir os efeitos através da redução nas exportações de commodities. Tal cenário poderia, paradoxalmente, fortalecer os laços políticos entre Brasília e Pequim, aumentando a dependência do Brasil em relação ao gigante asiático.
Implicações Multilaterais e Geopolíticas
No plano multilateral, a presidência norte-americana do G20 em 2026 entra como um potencial ponto de tensão entre os países, especialmente se o encontro de líderes coincidir com o ciclo eleitoral brasileiro. Ademais, a América do Sul corre o risco de se tornar um ponto marginal na política externa dos EUA sob Trump, a menos que haja uma mobilização da oposição brasileira para atrair a atenção internacional para questões como a deterioração do Estado de Direito no Brasil.
Já no domínio dos BRICS, a humilhação diplomática sofrida por Lula na última cúpula em Kazan, influenciada por Vladimir Putin, evidencia a redução da influência brasileira no bloco, o que pode inadvertidamente evitar maiores confrontos com o governo Trump, que pode optar por não priorizar a região em sua agenda de políticas externas.
Ponderações Futuras
Nesse cenário, será indispensável uma estratégia da oposição parlamentar e das demais lideranças conservadoras brasileiras, inclusive industriais, visando a obter o apoio da comunidade internacional, no âmbito da qual os Estados Unidos são o principal ator, para impedir o aprofundamento do autoritarismo e de recorrentes medidas de exceção no País. Assim, as eleições presidenciais nos Estados Unidos não só moldam a política interna, mas também redefinem alianças e rivalidades globais, com o Brasil figurando entre os atores potencialmente mais afetados por essa dinâmica. A oposição parlamentar no Brasil deve considerar cuidadosamente como navegar neste cenário complexo, esforçando-se para manter o país em destaque na agenda internacional de questões democráticas e direitos humanos.