A recente vitória da direita na Europa traz tanto motivos para comemoração quanto motivos para preocupação, especialmente do ponto de vista brasileiro.
As eleições do Parlamento Europeu no último final de semana foram marcadas por derrotas expressivas para líderes como Emmanuel Macron e Olaf Scholz, apoiadores de primeira hora do presidente brasileiro, Lula da Silva. Partidos socialistas e verdes, que historicamente formaram coalizões fortes, sofreram grandes perdas, enquanto partidos classificados como de “extrema-direita” aumentaram significativamente sua influência política.
Um olhar mais atento revela que, embora a vitória da direita possa parecer uma boa notícia para segmentos da direita brasileira, há motivos para cautela. A onda populista, iniciada com o Brexit, finalmente fez seu caminho para o continente europeu, mas apresenta nuances que exigem uma avaliação aprofundada.
Primeiro, é notável como sistemas estabelecidos reagem rapidamente para conter avanços conservadores, como visto nas vitórias de Trump, Bolsonaro e o Brexit. A direita, frequentemente menos organizada frente ao “estado profundo”, torna-se vulnerável.
Além disso, a chamada “extrema-direita” europeia apresenta diferenças significativas em relação à direita brasileira ou americana. Campanhas como a de Marine Le Pen incluíram pautas centristas ou até de esquerda, centrais na política europeia, ignorando questões como aborto e porte de armas, que são muitas vezes tratadas como pacificadas no continente.
Na Europa, a direita é caracterizada por uma resistência nacionalista contra a centralização da União Europeia, buscando políticas de imigração mais restritivas e um tratamento mais racional das questões ambientais, contrastando com o alarmismo climático.
O Parlamento Europeu não possui o poder de propor ou aprovar leis independente, função da Comissão Europeia, liderada por Ursula von der Leyen. Portanto, os ganhos eleitorais da direita são mais simbólicos, embora refletem um barômetro político que pode ter ressonâncias globais.
Para o Brasil, a ascensão de uma onda conservadora global pode ter influências benéficas, potencialmente fortalecendo pautas de direita que tem enfrentado dificuldades pós-Covid. Esse movimento pode se capilarizar para as eleições municipais brasileiras e se intensificar com possíveis mudanças políticas nos Estados Unidos.
Há também o “Efeito Bruxelas,” onde a UE exporta suas regulamentações globais. A recente vitória da direita pode moderar tendências autoritárias em regulações sobre tecnologia e liberdade de expressão, impactando positivamente em outras jurisdições, incluindo o Brasil.
Entretanto, há desafios para o agronegócio brasileiro, dado o fortalecimento do lobby agropecuário europeu, menos competitivo e mais politicamente influente. Questões ambientais têm sido usadas por líderes como Macron para barrar o acordo entre a UE e o Mercosul, complicando ainda mais a ratificação do tratado.
A Alemanha, interessada na implementação do acordo para sustentar sua indústria debilitada, observa divergências internas na EU que podem influenciar a escolha do próximo líder da Comissão Europeia.
Por fim, com o enfraquecimento de Macron e Scholz, a projeção internacional de Lula também sofre impactos, especialmente na dinâmica dos BRICS e outras plataformas globais. Contudo, uma maior sensibilidade europeia em relação a temas de liberdade e perseguição política no Brasil pode abrir novas oportunidades de diálogo e colaboração.
Em resumo, enquanto a ascensão da direita europeia pode inicialmente parecer uma vitória para segmentos similares no Brasil, as complexidades ideológicas e estruturais da própria União Europeia sugerem que os efeitos podem ser mais indiretos e menos substanciais do que se esperava inicialmente.