Por Marcos Paulo Candeloro
O Presidente da Argentina, Javier Milei, completou seis meses de mandato com duas conquistas notáveis. A primeira foi na área econômica. Ao implementar uma política estrita de corte de gastos, contrária à abordagem adotada pelo governo petista no Brasil, Milei conseguiu controlar a inflação — um feito significativo em um país historicamente instável neste aspecto. A segunda conquista ocorreu no Congresso, onde suas primeiras reformas foram aprovadas na madrugada desta sexta-feira. Embora algumas medidas tenham sido ajustadas ao longo do semestre de negociações, o governo manteve diretrizes que poderão viabilizar sua agenda liberal nos próximos meses. A Casa Rosada, por exemplo, agora pode sancionar leis em tópicos específicos, incluindo política econômica, sem necessitar da aprovação legislativa.
Com ações austeras, porém necessárias, o presidente libertário transformou a situação do país. A Argentina já não vive mais a turbulenta realidade do final de 2023 e início de 2024, quando os preços nos supermercados precisavam ser ajustados semanalmente. As cenas de clientes descobrindo aumentos inesperados no caixa devido a etiquetas desatualizadas tornaram-se menos frequentes. A inflação mensal, que foi de 25,5% em dezembro, caiu para 4,2% em maio.
Essa contenção da inflação deve-se, em grande parte, ao fato de que, pela primeira vez em uma década, o Estado argentino está gastando menos do que arrecada, resultando em um superávit. De janeiro a maio, a Casa Rosada registrou superávit fiscal por cinco meses consecutivos, incluindo os pagamentos de dívidas e juros. Com este objetivo alcançado, o Banco Central não precisa emitir pesos para cobrir os gastos do governo, eliminando um dos principais fatores da inflação.
Os cortes nos gastos públicos, símbolo da administração de Milei, têm consequências sociais significativas. Os argentinos mais pobres, dependentes de subsídios estatais e aposentadorias, foram os mais prejudicados. Vários protestos de funcionários públicos marcaram o período de austeridade. A retração do PIB foi de 5,1% no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período em 2023.
“Esse é o esperado efeito de uma reestruturação em uma economia desajustada. Organizar a casa implica em custos, e neste caso, aprofundou-se a recessão”, explica Juan Luis Bour, economista-chefe da Fundação de Investigações Econômicas Latinoamericanas. Setores importantes, como a indústria, estão em recessão desde 2022.
Apesar disso, a população tem encarado o período de ajustes com resignação. Milei prometeu essas mudanças e venceu as eleições com essa agenda. A expectativa é que a economia melhore eventualmente. Assim que os argentinos perceberem que seus salários não serão corroídos pela inflação até o fim do mês, um alívio será sentido. Esse fenômeno é similar ao vivido pelo Brasil com o Plano Real há 30 anos.
“O sucesso de Milei foi manter o apoio popular, apesar de equilibrar o orçamento de forma muito rígida. Foi um período de emergência”, afirma Bour. O presidente libertário continua com uma aprovação de cerca de 55%, próxima à porcentagem de votos que o elegeu no segundo turno em novembro.
Agora, Milei enfrenta uma corrida contra o tempo. Ele precisa mostrar resultados em breve para manter o apoio. Uma pesquisa realizada em março revelou que 46% dos argentinos acreditam que a sociedade “não pode esperar” mais de seis meses para ver os resultados positivos da política econômica, e 80% afirmam que a paciência não passa de um ano.
Enquanto isso, o real brasileiro se desvalorizou, caindo da sétima para a quinta posição entre as moedas que mais perderam valor ante o dólar nos últimos seis meses. A desvalorização do real é atribuída ao aumento dos gastos pelo governo brasileiro, que cresceu 6% entre janeiro e abril em comparação a 2023. “O governo brasileiro continua burlando o arcabouço fiscal. O crescimento dos gastos é o modo de operar desta gestão”, comenta Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.
Milei enfrenta um desafio monumental, ao contrário de Lula, que lidou com uma economia mais estável. No entanto, o presidente argentino demonstrou habilidade em identificar e combater as causas da inflação, criando a esperança de um futuro econômico mais estável para a Argentina.