Por Marcos L Susskind
Quando se pede a um político para dizer A Verdade, Toda a Verdade e Nada além da Verdade, ele dará três respostas distintas…
A piada acima é antiga, mas nunca deixou de ser atual. Infelizmente não existem muitos políticos que usem da verdade em seus pronunciamentos, suas ações e até mesmo em suas crenças.
Um bom exemplo é o atual presidente da França, Emmanuel Macron. Em 2014, frente a uma plateia de empresários de start-ups, Macron declarou “Eu sou socialista e afirmo isso”. Apenas 1½ ano mais tarde, num ato ao lado do político conservador Philippe de Villiers, Macron declarou: “A honestidade me obriga a confessar que não sou socialista”. Em momentos diferentes ele já usou as seguintes palavras para definir suas crenças políticas: “Liberal””, “reformista”, “patriota”, “progressista”, “dono de um lado levemente autoritário”. Em setembro passado formou um governo de direita.
Neste 10/04, Emmanuel Macron declarou que pretende reconhecer o Estado da Palestina durante uma conferência da ONU co-patrocinada pela França e pela Arábia Saudita. Com esse passo Macron se alinha à Irlanda, Noruega e Eslovenia que já reconheceram um Estado Palestino mas se coloca frontalmente contra a posição de Alemanha e Portugal que consideram precipitrado tal reconhecimento neste momento.
Macron é conhecido por posições radicais. Neste 3/04 ele convocou importantes industriais franceses e pediu que suspendam investimentos futuros ou já anunciados nos EUA. Os comentários foram feitos após a empresa francesa de transporte marítimo CMA CGM anunciar planos de investir US$ 20 bilhões nos EUA para construir terminais e logística de transporte, enquanto a empresa francesa de equipamentos elétricos Schneider Electric disse no final de Março que investiria US$ 700 milhões no país. Em Junho do ano passado Macron criou uma crise interna ao dissolver a Assembléia Nacional. O desemprego no país atingiu 7,6% e há crescente insatifação nos grupos de mais baixa renda frente à política econômica, o que está aumentando consideravelmente as forças políticas tanto da extrema direita como da extrema esquerda, ambas antagônicas a Macron.
E talvez seja esta realidade que leva Macron a eventualmente reconhecer o Estado da Palestina. O Instituto PEW estima que os muçulmanos na França são hoje cerca de 13% da população – 9.000.000 – e o governo Francês vai mais longe, estimando existirem até 13.000.000 de muçulmanos na França. Trata-se de um contingente eleitoral imenso! Há poucos meses eu escrevi, em outro artigo: “Infelizmente a maior parte dos políticos não têm opinião, têm apenas eleitores – e há milhões de Islâmicos votando. Para esses políticos, às favas com a ética, a verdade e a honradez. Viva o voto”!
A imensa maioria dos muçulmanos da França pertencem ao estrato de baixa renda e agradá-los, seguramente traz votos. Reconhecer o Estado da Palestina pode, portanto, ser uma estratégia eleitoral. Há, no entanto, mais um fator a considerar: a violência deste grupo étnico. Tal reconhecimento pode levar Macron a acreditar que, ao obter a simpatia deles, estaria diminuindo o risco terrorismo na França.
Açoes violentas e terroristas são frequentes na França. A destruição do Semanário Charles Hebdo, os atentados contra a Galerie Lafayette e contra as lojas Pintemps, as explosões em metrô de Lyon e Paris, o ataque à Ecole Villeurbanne, o sabotagem aos trens TGV, diversos assassinatos em Marseille, Paris, Lyon etc. são apenas alguns exemplos de violência de grupos islâmicos. O reconhecimento da Palestina como Estado apaziguará estes grupos? Creio que o efeito será contrário – se sentirão mais fortes e o ativismo de violência deverá crescer.
Finalmente há que se considerar qual o Estado Palestino que será reconhecido? O composto pela Faixa de Gaza mais a Judéia e a Samária (Cisjordânia), conforme exigência da OLP ou um Estado que elimine e incorpore o atual Israel, somado a Gaza, Judéia e Samária, conforme pregam o Hamas e a Jihad Islâmica? Aliás, o Brasil aparentemente defende esta última posição, haja vista o mapa da Palestina nos cursos da plataforma AVAMEC oferecidos pelo Ministério da Educação do governo Lula. Lembrando, finalmente, que jamais na história existiu qualquer país Palestina, mas tão somente uma área geográfica com este nome e que incluía quase a totalidade da atual Jordânia, o atual Israel, a Faixa de Gaza, partes da atual Síria bem como a Judéia e a Samária (Cisjordânia).
Macron terá dificuldades em decidir qual a Palestina que ele reconhecerá e – muito provavelmente – enfrentará respostas duras dos EUA, Israel, Alemanha, Argentina, República Tcheca e diversos outros países Europeus.