Marcos Paulo Candeloro
O lobby realizado pela Braskem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado envolvendo o afundamento de bairros em Maceió resultou em intervenção policial neste sábado. A Polícia Legislativa foi acionada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE), relator da CPI, após diversas reclamações contra o jornalista João Freire, representante da mineradora por meio da empresa FSB Comunicação.
Freire foi acusado de atos considerados invasivos por senadores, jornalistas e membros da sociedade civil. Relatos indicam que o jornalista perseguiu assessores parlamentares, abordou ativistas de forma indelicada, fotografou presentes sem autorização e tentou infiltrar-se entre jornalistas para obter informações sobre o relator da CPI.
Freire, com passagens pela Revista Fórum e pela Empresa Brasil de Comunicação (EBC), atualmente é coordenador do projeto Indústria Verde na FSB. Mensagens de WhatsApp o identificaram como “assessor da Braskem para o caso Maceió”, o que gerou mais suspeitas sobre suas intenções.
O gabinete de Rogério Carvalho informou que Freire frequentemente cercava o senador de forma ostensiva durante a saída das sessões e nas entrevistas, caracterizando tal comportamento como invasivo. A Secretaria da CPI foi então orientada a contatar a Polícia Legislativa para resolver a situação. Freire se desculpou e cessou suas abordagens.
A FSB, empresa de relações públicas, declarou que Freire atuava como assessor de imprensa na CPI e não como lobista, mas reconheceu que sua postura desagradou o relator e optou por retirá-lo do caso.
Além da atuação de Freire, a Braskem manteve uma estratégia de lobby robusta, coordenada por Renata Bley, diretora de Relações Governamentais, e Núbia Batista, gerente e ex-integrante do time de lobby da Odebrecht. Dessa forma, a empresa buscou influenciar o funcionamento da CPI desde o início, incluindo a escolha do relator, evitando a nomeação de Renan Calheiros (MDB-AL), crítico severo da Braskem.
O relatório final da CPI, liderado por Rogério Carvalho, concluiu pela responsabilidade da Braskem no desastre de Maceió, destacando práticas inadequadas na extração de sal-gema. Com mais de 1.300 páginas, o documento propõe um novo marco regulatório para o setor, revisão dos acordos com os moradores afetados e a relocação de quem ainda reside nas áreas monitoradas.
O relatório será encaminhado a diversas autoridades, incluindo a Procuradoria-Geral da República e o Ministério Público, aguardando desdobramentos legais contra a mineradora.
A invasão excessiva do lobby da Braskem resulta em acionamento da Polícia Legislativa e reforça a necessidade de monitoramento rigoroso nas atividades de pressão dentro do Senado.