Na quinta-feira, 6, o governo federal surpreendeu o mercado ao anunciar a compra extraordinária de 263 mil toneladas de arroz importado. A justificativa oficial? Compensar a escassez causada pelas recentes enchentes no Rio Grande do Sul. Uma nobre iniciativa, diriam alguns. No entanto, essa movimentação despertou uma tempestade de críticas. Por que não o setor privado?
Críticos apontam que tal aquisição poderia, e talvez deveria, ser feita discretamente pelo setor privado. Certamente, sem a necessidade de holofotes, evitando a concorrência injusta com os produtores locais que já sofrem com os impactos climáticos. Porém, a decisão do governo levanta suspeitas de uma manobra política para reviver a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), uma entidade fortemente alçada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Conab: um gueto vermelho?
Para entendermos essa trama, voltemos a 1990, ano da criação da Conab através da fusão de três estatais. A empresa nasceu com o objetivo estratégico de prover informações vitais sobre armazenamento, produção e custos de itens essenciais, como leite e arroz. Até aí, tudo bem. Mas, o site da Conab lista também propósitos como “executar estratégias de inclusão social” e “geração de emprego e renda”. Sob governos anteriores do PT, a Conab tinha um papel protagonista no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), favorecendo notoriamente a agricultura familiar – leia-se MST. A empresa se tornou um cliente fiel desses produtores e, posteriormente, distribuía a produção para escolas, universidades e até as Forças Armadas. Além de manter uma clientela fiel, o MST transformou a Conab em um verdadeiro cabide de empregos. Milton Fornazieri, um veterano do MST, integra o conselho de administração, para não deixar dúvidas.
Bolsonaro: uma tentativa de faxina?
Durante o governo Bolsonaro, houve uma tentativa de limitação da Conab a seu objetivo primário: fornecer estatísticas. A ideia era transformá-la em um “IBGE do agro”. Planos para a venda de armazéns foram esboçados, na esperança de diminuir a fatia compradora da Conab e convertê-la em um escritório de inteligência.
Lula retorna: tudo como antes?
Mas, com o retorno de Lula à presidência, a Conab foi reincorporada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, orquestrado por Paulo Teixeira, do PT. A desculpa de que “33 milhões de brasileiros passam fome” serviu como passe livre para a ampliação das atividades da Conab em todas as frentes. E who’s back in charge? Edegar Pretto, um ex-deputado petista, arrebatou a presidência da empresa após falhar na corrida governamental no Rio Grande do Sul. Em suas primeiras declarações, Pretto não escondeu seu favoritismo político, prometendo focar na agricultura familiar e em outras categorias tidas como base do PT: “garantiremos a produção dos assentados, agricultores familiares, índios, quilombolas, ribeirinhos, pescadores”. De quebra, eliminou mais de 150 ativos da Conab que estavam no Programa de Participações e Investimentos (PPI) esperando privatização. A pergunta que fica no ar é: a politicagem do PT e do MST vem antes do Brasil? Mais uma vez, produtores gaúchos ficam desassistidos enquanto a Conab segue dançando no ritmo do governo.