Por Kitty Tavares de Melo | Voz Insight Magazine
Olá, queridos leitores!
Fórmula 1: apenas duas palavras que despertam um universo inteiro de adrenalina, precisão, emoção e glória. Um templo da tecnologia extrema, onde cada parafuso conta, cada curva exige coragem, e cada décimo de segundo é conquistado com suor, engenharia e genialidade.
Mas há algo errado nos bastidores do espetáculo. Algo que vai além dos motores turbinados e do ronco ensurdecedor da pista. Algo mais silencioso, porém corrosivo: a impaciência.
Sim, a Fórmula 1 sempre foi impiedosa. Mas o que temos visto, sobretudo dentro de algumas equipes como a Red Bull, é uma pressa cega, imediatista, que transforma promessas em descartáveis e destrói talentos antes mesmo que eles possam florescer.
O caso mais recente dessa engrenagem apressada atende pelo nome de Liam Lawson.

Liam Lawson: O Descartado do Século?
Neozelandês, jovem, talentoso, e jogado à fogueira. Liam teve a oportunidade de pilotar pela AlphaTauri (equipe satélite da Red Bull) em substituição a Daniel Ricciardo, lesionado. Teve desempenho promissor: chegou a pontuar, mostrou controle e inteligência de corrida. Mas… foi pouco.
Para a Red Bull, foi insuficiente.
Com apenas duas corridas completas, ele foi colocado de volta no banco. Quem ficou com a vaga foi Yuki Tsunoda — um piloto conhecido mais pelos rádios raivosos do que por consistência em resultados. A lógica? Pragmática. Cruel. Curta demais.
A Red Bull parece ter esquecido uma verdade simples, porém essencial: performance não é um botão, é um processo. Um piloto não se revela por completo em duas provas com um carro instável. Ele precisa de tempo, confiança, estrutura. E isso está em falta no paddock da equipe austríaca.




O Culto ao Imediatismo: Gasly, Albon, De Vries… e Sainz
Não é de hoje que a Red Bull queima pilotos como quem troca pneus em curva molhada.
Pierre Gasly, promovido à equipe principal em 2019, foi rebaixado após 12 corridas. Estava liderando uma revolução técnica, mas não teve tempo de se adaptar. Volta para a AlphaTauri, vence em Monza no ano seguinte, provando o valor que só a paciência poderia revelar.
Alexander Albon teve destino similar. Brilhou na base, subiu rápido demais, caiu como vilão. Reemergiu na Williams, onde tem mostrado maturidade e controle, características que, ironicamente, a Red Bull não lhe deu tempo de desenvolver.
Nyck de Vries, campeão da Fórmula E e ex-piloto de testes da Mercedes, foi cortado após apenas 10 corridas. Um talento frio, técnico, metódico — que talvez precisasse de mais “calor” humano ao redor para entregar o seu melhor.
E então chegamos a Carlos Sainz Jr. — ou apenas Sainz.
Quando deixou a Red Bull, muitos o consideravam apenas o “filho do Sainz pai”, bom, mas não brilhante. Anos depois, consolidou-se na Ferrari, venceu corridas, liderou estratégias e mostrou frieza e visão de jogo típicas dos grandes. Hoje, é símbolo de consistência — justamente o que a Red Bull nunca teve paciência de cultivar.
Senna, Schumacher e a Semente do Tempo
Se a Red Bull estivesse no paddock dos anos 80 e 90, talvez Ayrton Senna jamais tivesse se tornado o mito que é.
Senna teve tempo para errar, aprender e mostrar que além da velocidade, havia um coração pulsante por justiça, por perfeição, por espiritualidade. Cada curva de Mônaco, cada duelo com Prost, foi resultado de lapidação, não de pressa.
Michael Schumacher, o heptacampeão, também não foi instantâneo. Em sua estreia pela Jordan, chamou atenção. Mas foi na Benetton e depois na Ferrari que escreveu sua lenda — com anos de reconstrução, de erros, de escolhas arriscadas. A Ferrari, então uma equipe sem título desde 1979, esperou e construiu com ele. O resultado? Um império de vitórias.
E agora, temos Emmerson Fittipaldi Jr., carinhosamente chamado de “Emminho”.

Emmerson Jr.: Um Futuro Escrito com Raiz, Calma e Classe
Filho do lendário Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial e ícone do automobilismo, Emminho está traçando seu próprio caminho, e o faz com uma mistura encantadora de humildade, talento e maturidade.
Em 2020, ele foi acolhido pela Sauber Academy, dando início a uma jornada séria rumo à Fórmula 1.
Em outubro de 2022, foi finalista da Ferrari Driver Academy Scouting World Final, um feito que o colocou sob os olhos das grandes equipes.
Em 2024, Emminho teve sua temporada completa na Eurocup-3 com a MP Motorsport, onde se destacou em diversas corridas por sua inteligência de corrida, controle emocional e habilidade técnica refinada.
Agora, em 2025, permanece na mesma equipe, mostrando consistência e crescimento contínuo — exatamente o que falta em muitas decisões precipitadas no grid da Fórmula 1 atual.
Mais do que isso: seu pai está ao seu lado no momento certo. Emerson, com toda a bagagem de glórias e derrotas, sabe quando guiar, quando calar e quando apenas abraçar. E Emminho, cada vez mais maduro, tem escutado. A conexão entre eles é mais que sangue: é visão de mundo.
Essa é a diferença. Enquanto muitos correm atrás do agora, Emmerson Jr. está se preparando para durar.
O Valor do Processo: Quando o Tempo é o Melhor Engenheiro
O que acontece quando uma equipe acredita no tempo?
A resposta pode estar no exemplo de McLaren com Lando Norris.
Norris não venceu de cara. Errou, chorou, perdeu poles. Mas teve espaço, teve suporte. Em 2023, a McLaren colheu frutos, e Norris é hoje uma peça-chave para a nova era da equipe.
Outro exemplo? George Russell, desenvolvido com calma pela Williams antes de se tornar piloto da Mercedes. Quando chegou, estava pronto — emocional e tecnicamente.
E isso nos leva a uma reflexão mais profunda:
Em um mundo que exige respostas instantâneas, o verdadeiro luxo é ter tempo para crescer.
A Fórmula 1 Precisa se Reconectar com a Humanidade
Que a Fórmula 1 volte a ser um esporte de homens — e não apenas de algoritmos.
Que pilotos como Liam Lawson não sejam esquecidos, mas lembrados como um alerta: talento não se mede em voltas. Se revela com tempo, alma e confiança.
E que Emminho, nosso jovem brasileiro, encontre um paddock que valorize o processo, não apenas o pódio — porque as verdadeiras vitórias são aquelas que se constroem com legado, com alma, com paciência.