Recentemente, emergiram informações sobre discussões nos bastidores em que os EUA consideram conceder perdões a Maduro e seus principais oficiais, todos enfrentando graves acusações no Departamento de Justiça. Fontes próximas às deliberações do governo Biden revelam que “a carta está na mesa” para persuadir Maduro a deixar o poder antes do término de seu mandato em janeiro. Outra fonte afirmou que os EUA estariam dispostos a garantir a não-extradição deles. Curiosamente, essa postura contrasta com a abordagem adotada em 2020, quando foi oferecida uma recompensa de US$ 15 milhões por informações que levassem à prisão de Maduro, acusado de conspirar com seus aliados para inundar os EUA com cocaína .
As negociações Americana é uma esperança para a oposição política a Maduro, que coletou com cuidado as contagens de votos mostrando que seu candidato, o pouco conhecido ex-diplomata Edmundo González, derrotou Maduro de forma esmagadora nas eleições de 28 de julho. Nas últimas duas semanas, Maduro já prendeu milhares de dissidentes, cobrou a lealdade das Forças Armadas e encarregou a Suprema Corte, composta por seus aliados escolhidos a dedo, de resolver o impasse eleitoral, ganhando temp
A ação internacional pode ser o único caminho para forçar a saída de Maduro, que, em 11 anos de governo autoritário, provocou um colapso econômico, isolamento diplomático e a imigração de quase oito milhões de venezuelanos — mais do que a Síria e a Ucrânia devastadas pela guerra. Maduro deu abrigo a gangues transnacionais, dizem autoridades dos EUA e da Colômbia, e permitiu que Rússia, China e outros rivais dos EUA ganhassem espaço no Hemisfério Ocidental.
O controle total de Maduro sobre o poder torna difícil para o governo smericano. Os EUA fizeram uma oferta de anistia a Maduro durante conversas secretas em Doha, Qatar, no ano passado, mas ele recusou discutir arranjos em que teria que deixar o cargo, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. Uma pessoa próxima ao regime disse que a posição de Maduro não mudou, por enquanto.
Maduro disse estar aberto a conversas, desde que Washington o trate com respeito. Em outros momentos, ele diz que os EUA devem cuidar dos próprios assuntos. “Não se envolvam nos assuntos internos da Venezuela, é só isso que peço”, disse Maduro em uma coletiva de imprensa na sexta-feira.
Os três países mais populosos da América Latina — Brasil, México e Colômbia — também estão envolvidos na tentativa de resolver o impasse. Funcionários dos EUA querem que esses países — governados por líderes de esquerda simpáticos a Maduro — adotem uma postura mais dura do que a atual posição de pressioná-lo a apresentar provas de que venceu.
Os EUA têm cinco meses antes da posse presidencial na Venezuela para concretizar um acordo, e muito depende do resultado das eleições presidenciais em novembro.
Ainda assim, Maduro desconfia de Washington, independentemente de quem esteja na Casa Branca, disseram pessoas familiarizadas com o sentimento na capital venezuelana, Caracas. Isso inclui o governo Biden, apesar de ter levantado a maioria das sanções econômicas na esperança de promover uma eleição livre e justa em julho, Biden ajudou a Maduro assim como ajudou o Irã.
Até agora, as negociações ocorreram virtualmente entre Jorge Rodríguez, presidente do congresso da Venezuela e confidente de Maduro, e Daniel P. Erikson, que dirige a política em relação à Venezuela no Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca. Autoridades dos EUA sinalizaram que não forçarão as empresas petrolíferas ocidentais a deixar a Venezuela.
Uma porta-voz do NSC se recusou a comentar os engajamentos diplomáticos com Caracas. Os EUA, disse ela, apoiam os esforços internacionais para exigir transparência sobre o resultado da votação e “determinarão os próximos passos com base em nossos interesses nacionais e tomarão medidas no momento que escolhermos”.
O governo Biden “está se concentrando em incentivos, como oferecer o levantamento das acusações em troca de conversas de transição, em vez de sanções”, disse Geoff Ramsey, especialista em Venezuela no Atlantic Council, um think tank de Washington.
Ramsey disse que os republicanos poderiam usar o engajamento com Maduro para atacar os democratas em um ano eleitoral, o que poderia ser prejudicial se os esforços dos EUA fracassarem.
A tentativa dos EUA de oferecer a Maduro uma opção que salve sua imagem se alinha à estratégia da oposição, que favorece negociações que incluam garantias para os líderes do regime e uma transição para um governo de González.
As negociações dos EUA não estariam acontecendo sem os preparativos de meses da oposição venezuelana para documentar e divulgar a contagem de votos, que mostrou que González venceu por quase 38 pontos percentuais, coletando 7,3 milhões de votos contra 3,3 milhões de Maduro.
Líderes da oposição disseram que tinham certeza de que Maduro roubaria a eleição. Ele já havia proibido a líder da oposição mais popular, María Corina Machado, de concorrer.
Eles decidiram que sua melhor chance de documentar a vitória era obter a tabulação em papel das cédulas que cada máquina de votação venezuelana emite, conhecida como *acta*. A lei venezuelana exige que as *actas* sejam disponibilizadas ao público. A oposição treinou dezenas de milhares de observadores eleitorais, que têm permissão para entrar nas seções eleitorais para recuperar as *actas*, que se parecem com um recibo de supermercado.
Um organizador da oposição disse: “Eu disse aos nossos observadores eleitorais: ‘Eles podem tentar matar você, mas não deixe a mesa de votação até que você tenha as *actas*.’”
Quando a votação terminou, os trabalhadores das seções eleitorais notaram que González estava ganhando em seção após seção, mesmo no bairro de Caracas chamado 23 de Enero — um reduto do movimento de esquerda radical que governa há um quarto de século. “Não podíamos acreditar”, disse um dos trabalhadores das seções eleitorais.
Outro trabalhador eleitoral do outro lado da cidade ficou atônito ao ver Maduro perder em distritos que eram “hiper-chavistas”, referindo-se ao predecessor e mentor do presidente, Hugo Chávez.
Os soldados, que normalmente cumprem as ordens do regime, não fizeram nada para impedir o esforço da oposição, todo o processo resultando em uma mini-rebelião contra Maduro em um país onde ele controla todas as instituições, incluindo o Conselho Nacional Eleitoral.
“Eles estavam felizes”, disse o trabalhador da seção eleitoral em 23 de Enero sobre os soldados. “Foi surpreendente.”
Os observadores eleitorais, usando um código QR nas *actas*, enviaram os resultados eletronicamente para a oposição. Eles também mantiveram cópias físicas, publicando muitas nas redes sociais.
Aliados do regime e militares conseguiram expulsar alguns observadores eleitorais da oposição e apreender as *actas* em algumas seções eleitorais. Mas não foi suficiente para parar o fluxo de evidências.
Muito tempo depois que a votação terminou, o regime permaneceu em silêncio, embora o moderno sistema de votação eletrônica do país tenha sido projetado para emitir os resultados minutos após o fechamento das urnas. Só depois da meia-noite é que o presidente do conselho eleitoral, o confidente de Maduro, Elvis Amoroso, disse que o presidente havia vencido, sem citar nenhuma evidência.
Até então, a oposição estava a caminho de coletar 83% das *actas*. A contagem deles mostrou que González havia conquistado muito mais votos em todos os estados venezuelanos e em quase 300 dos 330 municípios.
Jennie Lincoln, que supervisionou o esforço do Carter Center para monitorar a eleição, disse que Amoroso não apresentou resultados seção por seção, como exigido pela lei eleitoral, e ainda não o fez. Sem oferecer provas, o regime afirmou que um hacker da Macedônia do Norte havia violado o sistema, tornando impossível compartilhar publicamente as *actas*.
“E o hacking”, disse Lincoln, “é uma farsa.”
Amoroso não explicou como determinou que Maduro havia vencido, nunca mostrando a outros na sede do conselho eleitoral as *actas* nas quais o resultado da eleição foi baseado, disse Enrique Márquez, um ex-candidato presidencial que tinha um representante na sede na noite da eleição.
Os resultados coletados pela oposição foram semelhantes às pesquisas pré-eleitorais feitas por institutos independentes e às pesquisas de boca de urna. A oposição digitalizou as *actas* e as publicou em um site acessível a qualquer venezuelano. “Conseguimos mostrar ao mundo a verdade e o que aconteceu na Venezuela”, disse Machado ao The Wall Street Journal.
María Corina Machado agora enfrenta investigação pelo regime de Maduro.
A resposta do regime
Do palácio presidencial, Maduro, 61, chamou a estratégia da oposição de golpe e lançou uma repressão, com seu regime prometendo investigar Machado e González.
Até o final da semana, Maduro disse que mais de 2.400 dissidentes e manifestantes haviam sido presos.
Tropas da Guarda Nacional e as gangues paramilitares do regime, os “coletivos” motorizados, atacaram manifestantes. Ativistas antigovernamentais fugiram para a Colômbia, enquanto centenas de venezuelanos que se manifestaram publicamente contra Maduro relataram que seus passaportes foram anulados. O grupo de direitos humanos Provea afirma que 24 pessoas morreram.
“Não haverá perdão”, advertiu Maduro a seus adversários. Duas novas prisões serão construídas para abrigar os novos presos políticos, disse o presidente, com muitos deles sendo submetidos a trabalhos forçados.
Registros de votação são exibidos durante um encontro organizado por líderes da oposição.
Eric Farnsworth, ex-diplomata americano e analista do grupo de políticas Council of the Americas, em Washington, disse que os resultados das eleições deixaram Maduro atônito. Farnsworth afirmou que o líder deu sinais de que está disposto a levar a Venezuela em direção a uma ditadura ainda mais rígida, semelhante à de Daniel Ortega na Nicarágua, onde assassinatos políticos são muito mais comuns e nenhuma dissidência é tolerada.
“Ele foi mostrado como impopular e também ilegítimo. Como ele combate isso? Com mais opressão”, disse Farnsworth. “Na prática, isso o torna mais perigoso. Isso faz com que estar na oposição seja algo muito arriscado.”
O regime anunciou o que chama de Operação Knock-Knock, que significa uma batida na porta a qualquer hora e prisão.** Em um caso que se tornou viral, agentes uniformizados apareceram recentemente na casa de um jovem sem um mandado. A prova de delito: um vídeo dele protestando. “Incitação ao ódio”, disse um agente à família, mostrando o vídeo em seu celular. Os familiares exigiram ver um mandado, mas o agente advertiu: “Se quiserem piorar isso, nós vamos piorar”, antes de levar o jovem embora. A família postou um vídeo do encontro online.
Apoiadores de Maduro participaram de uma marcha em Caracas em 5 de agosto.
Maduro está tentando afastar as pessoas do X (antigo Twitter) e do WhatsApp, ordenando que a empresa de Elon Musk seja bloqueada por 10 dias e exortando os venezuelanos a desinstalar o WhatsApp para suprimir informações sobre a votação e a repressão.
Machado disse que a mudança pode vir se a oposição conseguir manter as pessoas nas ruas.
Mas há consequências para quem se opõe a Maduro, disse Juan Barreto, ex-prefeito de Caracas, que antes era alinhado com o regime. Depois de pedir ao regime que liberasse as *actas*, ele enfureceu seus antigos camaradas — alguns dos quais estão pedindo sua prisão.