-Por Alexandre Pinhel
O Brasil, com sua geografia continental desafiadora e imensa diversidade étnica, sempre forneceu elementos para demonstrações culturais espetaculares em todas as esferas. Temos figuras emblemáticas como Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Vinicius de Moraes, Machado de Assis, Clarice Lispector, Gilberto Gil, compondo uma lista inumerável e eclética que dispensa comentários. Porém, ao observarmos mais de perto esses expoentes, percebemos que há uma dimensão mais profunda por trás de suas manifestações mais viscerais e belas: são declarações provocativas contra o flagelo da desigualdade.
Assim surgiram o trabalho braçal no Abaporu, a enxada no Lavrador de Café, a poesia do Operário em Construção, o humanismo, a Estrela Macabéa e os Barracos da Cidade. Obras como essas são destilações da indignação de quem é sensível, corajoso e talentoso o suficiente para materializar sua crítica social em espetaculares espinhos dourados.
Se manifestações como essas emanam de mentes eruditas e refinadas, imagine como borbulham os subterrâneos da Sociedade. Samba, funk, grafite, cordel, as esculturas desde Mestre Vitalino até Bispo do Rosário e todas as Asas Brancas. Infinito em todas as direções. Mas de onde vem a energia para tudo isso? Como funciona esse moto-contínuo de criatividade?
Essa multi-dimensionalidade é ao mesmo tempo combustível e motor. As dificuldades e sofrimentos da rotina de quem luta para sobreviver impulsionam a criatividade para que a sanidade seja mantida. Deve haver prazer para que a vida mereça ser vivida. Obstáculos e dores
são usados como alavancas que criam, e o que é criado é manifestação do entorno. Esse mecanismo se multiplica e propaga em todas as direções, como dominós caindo, como uma infestação que, ao longo da propagação, contamina e sofre mutações, fazendo surgir arte sobre arte, em derivadas e integrais.
E como aditivos para aumentar a octanagem dessa gasolina, temos a generosidade e o calor do
nosso povo, uma mistura mágica de genes vindos de todos os lugares do planeta, um experimento cósmico. Este é o segredo por trás de toda a beleza ubíqua e multissensorial que cerca o brasileiro. Só que toda essa beleza tem um preço, talvez alto demais….
Enfim, ao vencedor, as batatas…