Por Marcos Paulo Candeloro
“É provável que a equipe do Twitter Brasil seja composta por pessoas com forte viés político” – tuitou Elon Musk hoje, 14 de dezembro de 2022. O post ocorreu no contexto de uma interação com o perfil do Conexão Política, um jornal digital brasileiro com inclinações conservadoras. Marcando o novo proprietário da rede social, o jornal denunciou a resistência do Twitter Brasil em conceder o selo dourado (destinado a empresas) aos veículos de mídia conservadores. Em resposta, Musk prometeu verificar e seguiu com o comentário mencionado.
Devo confessar uma satisfação pessoal ao testemunhar o levantamento deste tapete, que mal escondia a sujeira acumulada de viés político e impulsos ditatoriais dos operadores de Big Tech. Satisfação pessoal porque, como autor de um artigo pioneiro (sem falsa modéstia) sobre a composição ideológica e os objetivos políticos da aliança formada por redes sociais e as chamadas “agências de verificação de fatos” (e, no caso brasileiro, também por agentes estatais), fui repetidamente acusado de ser um “teórico da conspiração”. Baseado em um flatus vocis liberaloide, segundo o qual a política consiste meramente em um debate de ideias – e não, como acontece na realidade, na ocupação física de espaços e imposição de vontades –, críticos se exasperaram porque eu apontava a identidade pessoal dos verificadores de fatos. Por meio de uma pose e pretensão de retidão, eles não entenderam – ou não quiseram entender – a razão desse apontamento.
Identificar os verificadores de fatos foi crucial para o texto, que consistia no seguinte procedimento argumentativo: 1. investigar a orientação política dominante nas redes sociais e agências parceiras; 2. argumentar que a grande maioria dos operadores dessas redes e agências eram de esquerda e extrema-esquerda; 3. fornecer links para as seções “Sobre Nós” dessas agências, para que, verificando por si mesmos os perfis públicos dos verificadores de fatos, os leitores pudessem avaliar a relevância ou irrelevância desta opinião. Minha conclusão na época foi a seguinte:
“Até agora deveria ter ficado claro para o leitor que essas agências de verificação de fatos, longe de serem instituições ideologicamente neutras, são, ao contrário, agentes políticos proeminentes no cenário global contemporâneo. Juntamente com conglomerados de mídia tradicionais, formam uma grande reação epistocrática à livre circulação de ideias em seus respectivos países, que, nos últimos anos, graças à internet, desafiou o monopólio da informação exercido pela imprensa mainstream, cada vez menos diversa em termos de visão de mundo. Compostos por portadores do que o economista americano Thomas Sowell chamou de ‘a visão dos ungidos’, essa grande rede de organizações busca uma solução urgente para o seguinte problema: o que fazer quando, apesar de todas as nossas estratégias para manipular o debate público, o povo não nos obedece e vota contra nossos interesses, como ocorreu com o Brexit e a eleição de Trump?”
Especificamente, em relação ao Brasil, o que observei então foi o seguinte:
“Se o leitor tiver curiosidade de fazer uma breve pesquisa sobre o perfil das agências de censura na internet brasileira (por exemplo, aqui, aqui e aqui), logo será óbvio: suas equipes são compostas exclusivamente por indivíduos de esquerda ou extrema-esquerda, eleitores ou simpatizantes de partidos como PSol, PCdoB e PT, cujo objetivo é intervir ostensivamente no próximo processo eleitoral. Esse é o caso, por exemplo, da Agência Pública-Truco, que inclui, além de jovens millenials e guerreiros da justiça social desconhecidos do público, notórios radicais de esquerda como Leonardo Sakamoto, Eliane Brum, Eugênio Bucci e Ricardo Kotscho (este último
ex-assessor do corrupto encarcerado Luiz Inácio Lula da Silva). Os efeitos dessa vasta articulação política em favor de uma internet policiada e partidária já estão sendo dramaticamente sentidos. Páginas e perfis de indivíduos e grupos posicionados no espectro político não esquerdista tiveram seu alcance reduzido, quando não banidos em processos verdadeiramente kafkianos, nos quais o acusado não é concedido o direito à defesa, nem mesmo informações claras sobre o crime de pensamento cometido (…) Estamos diante de um verdadeiro ataque à democracia perpetrado justamente por aqueles que, em campanhas de autopromoção recorrentes, professam defendê-la mais. Esta é uma exibição de arrogância, elitismo e autoritarismo, investidos em um sentido auto-hipnótico de superioridade moral, pelo qual assumem o papel de polícia do debate público (…) A guerra por uma internet livre está apenas começando e deve incluir qualquer pessoa que, além de salvaguardar sua própria liberdade de consciência, também se preocupe com a liberdade de consciência dos outros. É hora de unir forças contra o totalitarismo dos epistocratas.”
Esta guerra – que, em certo ponto, até vitimizou este escriba – escalou brutalmente a partir daí, começando a incluir membros dos tribunais superiores, também predominantemente compostos por militantes de esquerda, nas fileiras da censura à direita brasileira. No contexto dos Twitter Files, que, ao divulgar comunicações internas da empresa e – QED – revelar a identidade dos conspiradores, expôs a trama para banir todas as vozes conservadoras da rede social, o interesse de Musk no caso brasileiro alimenta esperanças de que, também aqui ao sul do Equador, verdades possam um dia ser reveladas, segredos desvendados e o pântano da exclusão política devidamente drenado. Sonhar – por enquanto – ainda não é crime!
Para quem não conhecia os Twitter Files Brasil, aqui está o link para a publicação do jornalista Michael Shellenberger:
https://twitter.com/shellenberger/status/1775516415023251835?t=ewWpYV10eIeExnvrMbnWiQ&s=19