Um estudo recente liderado por Robert A. Pape, professor de ciência política na Universidade de Chicago, trouxe à tona uma preocupação crescente: o apoio à violência como tática política entre eleitores do Partido Democrata supera o dos eleitores do Partido Republicano. O relatório, divulgado pelo Projeto de Chicago de Segurança e Ameaças, foi baseado numa pesquisa realizada entre 20 e 24 de junho, anteriormente à tentativa de assassinato contra Donald Trump, candidato republicano à presidência. Mais de duas mil pessoas participaram do estudo.
Pape e sua equipe perguntaram aos entrevistados se justificavam o uso da força para restaurar Trump na presidência ou para impedi-lo de se tornar presidente mais uma vez. Enquanto 6,9% apoiaram a violência a favor do ex-presidente, 10% apoiaram o uso da violência contra ele. Extrapolando os dados para a população americana, os pesquisadores calcularam que 26 milhões de adultos acreditam que o uso da força para evitar que Trump volte à Casa Branca é justificado. Desses, nove milhões têm arma de fogo em casa, seis milhões acham que a polícia que tenta evitar ataques merece ser alvo de violência, cinco milhões participaram de protestos no último ano, três milhões são membros de milícias ou conhecem membros, e dois milhões têm experiência nas forças armadas.
Nicholas Kristof, colunista do New York Times, comentou sobre os resultados, destacando que “os progressistas tendem a ter certeza de que são os pacíficos.” Ele ressaltou ainda que tanto progressistas quanto conservadores precisam evitar a retórica inflamada e as metáforas belicosas, pois a aceitação crescente da violência pode levar a situações onde policiais ignoram crimes por acreditarem que a violência é justificada, e jurados dificultam condenações por motivos semelhantes.
Este estudo recente não é um caso isolado quando se trata de intolerância na esquerda. No ano passado, a Sociedade pela Investigação Aberta na Ciência do Comportamento (SOIBS, na sigla em inglês) descobriu que mais da metade dos universitários de esquerda concordariam com afirmações de Hitler sobre judeus se o autor fosse anonimizado e o grupo demonizado fosse trocado por “brancos.” Além disso, a Fundação pelos Direitos e Expressão Individuais (FIRE) sugeriu, em um estudo abrangente realizado em setembro, que um terço dos universitários das cinco piores universidades americanas em termos de censura aceitariam o uso da violência para silenciar opiniões conservadoras, como “o aborto deve ser completamente ilegal.” Mesmo nas cinco universidades com melhor avaliação quanto ao ambiente de expressão, 21% dos universitários tinham essa posição. Nas instituições de ensino superior, a dominância da esquerda é evidente: apenas 19% dos estudantes se identificam como conservadores em alguma medida.
Kevin Drum, escritor e analista político americano, afirmou em 2021 que “desde o ano 2000, de acordo com dados de pesquisas, os democratas foram significativamente mais para a esquerda na maioria dos temas sociais polêmicos enquanto os republicanos foram só um pouco para a direita” do espectro político. Drum argumentou que a radicalização dos democratas transformou a política americana em uma batalha cultural. A guinada à esquerda é algo que o analista, pessoalmente, vê com bons olhos, mas que considera improvável que agrade aos eleitores em geral.
Dados do Pew Research Center mostram que, em 1994, os democratas tinham uma média de 5 e os republicanos de 6 numa escala de zero a dez, onde zero representa o extremo esquerdo e dez o extremo direito. Em 2004, os democratas moveram-se para 4 e os republicanos para 5. Em 2017, primeiro ano de governo de Trump, os democratas saltaram para 2 enquanto os republicanos estavam em 6,5. Com a radicalização, vem a demonização do outro lado, como evidenciado pelas repetidas comparações de Trump a Hitler até o mês anterior à tentativa de assassinato, e a aceitação da violência.
O estudo do extremismo de esquerda enfrenta desafios significativos. Por décadas, sob a influência da Escola de Frankfurt, muitos cientistas sociais alegaram que o autoritarismo era uma característica exclusiva da direita. Somente nos últimos dois anos, essa visão começou a mudar, com a proposição de um teste do autoritarismo de esquerda pelo psicólogo Thomas Costello, da Universidade Emory em Atlanta, e seus colegas. Os cientistas estabeleceram que um dos sinais mais fortes de autoritarismo de esquerda é a agressividade anti-hierárquica, que envolve o uso de violência ou coerção antidemocrática contra pessoas percebidas como detentoras do poder ou no topo das hierarquias que os progressistas desejam derrubar.