Por Marcos Paulo Candeloro
No mais recente capítulo da interminável saga da pandemia, que insiste em não chegar ao fim, a AstraZeneca, numa manobra tão sutil quanto um elefante numa loja de cristais, solicitou à União Europeia que retirasse sua vacina contra a COVID-19 das prateleiras europeias.
Pois é, meus caros, o próprio fabricante decidiu recuar, pedindo à Agência Europeia de Medicamentos – mais conhecida como EMA, aquela gloriosa entidade reguladora que garante que os medicamentos na Europa sejam seguros e eficazes – para descontinuar sua problemática vacina. Não é todo dia que vemos uma empresa pedindo para parar de vender seu próprio produto. Quase poderia ser visto como um ato de misericórdia.
Quando essa vacina foi lançada com grande pompa pela EMA em janeiro de 2021, parecia que os fogos de artifício iluminariam o céu da saúde pública. No entanto, não demorou muito para preocupações sérias roubarem o brilho da festa. Relatos de efeitos adversos graves, como coágulos sanguíneos raros, começaram a surgir, fazendo com que muitos questionassem a segurança do produto.
Como se não bastasse, o uso inicialmente recomendado apenas para os jovens foi revisto em um vai e vem de diretrizes que mais parecia uma dança confusa do que um protocolo de saúde pública.
A adição ao arsenal médico foi massivamente distribuída para nações economicamente desfavorecidas, atuando como a opção custo-benefício no combate global à pandemia. No entanto, a eficácia dessas doses começou a ser questionada à medida que o vírus evoluía, trazendo à tona a crítica constante de que talvez o barato realmente pudesse sair caro.
Até mesmo o Reino Unido, após inicialmente depender fortemente desta vacina graças ao desenvolvimento em colaboração com a Universidade de Oxford e subsidiação governamental, eventualmente se viu inclinado a buscar alternativas que não estavam maculadas pelos mesmos riscos de efeitos colaterais significativos.
Assim, estamos diante de uma história repleta de altas expectativas e resultados complicados. A trajetória da vacina da AstraZeneca é marcada por um misto de esperança inicial e subsequente desilusão devido aos sérios efeitos adversos que vieram à tona. A decisão de retirar sua vacina do mercado europeu não é apenas uma estratégia preventiva, mas também um reconhecimento tardio dos danos já causados. A medida pode ser vista como uma tentativa de mitigar mais controvérsias, porém, para muitos, o gesto chega como um pequeno conserto após uma grande quebra. Resta-nos agora refletir sobre as lições aprendidas e a importância de vigilância contínua na saúde pública, enquanto nos questionamos se outros capítulos desta história ainda estão por ser escritos.