Por Marcos Paulo Candeloro
Ah, a encantadora burocracia brasileira! Nada diz “Emergência” como um bom e velho emperramento burocrático, não é mesmo? Enquanto o Rio Grande do Sul enfrenta uma das maiores catástrofes naturais dos últimos tempos, nossos queridos líderes, em um esforço hercúleo, conseguiram provar que papelada é mais resiliente que infraestrutura.
Entrando em cena, temos Paulo Ziulkoski, o porta-voz dos prefeitos gaúchos e presidente da Confederação Nacional dos Municípios, que parece ter descoberto uma nova vocação como crítico de absurdos federativos. De acordo com ele, enquanto as chuvas castigam, os trâmites burocráticos performam um balé trágico-comédico de demoras e exigências, transformando a liberação de recursos emergenciais num episódio de Kafka.
E não pense que isso é um exagero. Imaginem, caros leitores, os pobres prefeitos, alguns provavelmente nadando até suas prefeituras inundadas, tentando enviar um e-mail para conseguir míseros trocados prometidos pelo governo. E enquanto isso, Waldez Góes, nosso notório ministro da Integração e Desenvolvimento Regional, soltou a pérola de que apenas 69 dos 447 municípios atingidos manifestaram interesse pelos recursos. Curioso, né? Quem diria que desespero e água até o pescoço fossem incompatíveis com a burocracia Internet-dependente.
Ah, mas não para por aí! Os R$ 16 milhões – uma cifra que soa generosa apenas se você vive em outro planeta –, disponibilizados são meras gotas num oceano de necessidades. E, claro, distribuídos com uma calculadora na mão, porque nada como números para mostrar que se está “fazendo algo”.
Mas vamos ser justos. Talvez haja uma lógica nisso tudo. Afinal, como pontuou nosso perspicaz Ziulkoski, parece que há uma presunção de desonestidade nos processos. Os prefeitos, aparentemente, não passam de potenciais supervilões, apenas esperando a chance de desviar os fundos para construir suas fortalezas secretas, certo?
Enquanto isso, as fatalidades, desabrigados e danos se acumulam, e a resposta oficial ainda está submersa na lama da lentidão governamental. Mas o importante é manter a ordem no papel, oras. Quem precisa de ação rápida em meio a desastres sem precedentes? Vamos guardar as aparências, cumprir protocolos e, quem sabe, até dar uma lição para esses pedintes municipais sobre como a verdadeira eficiência é medida em carimbos e assinaturas.
Então, bravo, burocracia brasileira, bravo! Novamente, você se prova o verdadeiro poder impermeável – literalmente e figurativamente – perante as adversidades. Continuem assim, e quem sabe não conseguimos elevar o teatro do absurdo a patamares nunca antes alcançados – desde que, é claro, todo o requerimento esteja devidamente preenchido em três vias.