Por Marcos Paulo Candeloro
Em um recente surto de nostalgia filosófica, a democracia, essa senhora já não tão jovem e decididamente questionável, encontrou-se mais uma vez na berlinda, desta vez atacada por fantasmas do passado que aparentemente têm contas a acertar. Sim, estamos falando do velho Ben Franklin, aquele cara da pipa com a chave (eletricidade!), que teve a audácia — ou seria a clareza? — de nos lembrar que a democracia, às vezes, pode se parecer muito com dois lobos e um cordeiro decidindo o cardápio do jantar. Afinal, quem precisa de minorias quando você pode simplesmente comê-las, certo?
Daí, nosso autoproclamado bastião da liberdade e raciocínio lógico é confrontado com a proposta de criar plataformas que supostamente enalteceriam o desenvolvimento individual. No entanto — oh, surpresa! — o que fizeram foi dar à luz um exército de robôs programados para pensar da mesmíssima forma. Todos uniformemente bonitinhos em seus pensamentos homogêneos, debatendo quem sabe, o melhor método para untar uma torrada.
E para quem acha que já vimos de tudo, ainda tem mais! Ao puxar o fio da sutileza chamado censura, desenrolamos a velha bola de lã da supressão do pensamento, onde a liberdade de expressão passa a ser mais uma peça de museu. Nesse cenário, somos gentilmente convidados a atacar nossa própria capacidade de pensar — um esporte aparentemente em voga.
Chegamos então ao fino véu da ironia onde, por exemplo, alguns países europeus, arteiros que só, decidiram transformar o discurso de ódio numa espécie de esporte criminoso. A Alemanha, sempre à frente, agora multa qualquer plataforma digital que hospede o malvado discurso de ódio. Você pensa que odeia Hitler online? Pense de novo! E os marxistas? Bom, aqueles com seus sonhos de luta de classes talvez precisem reformular seus slogans.
Você apoia essas medidas? Ou será que chegamos no ponto onde, ao tentar regular o mau gosto e a grosseria, acabamos patrocinando um concurso de quem é o maior hipócrita do parquinho democrático? Na dúvida, talvez seja melhor manter o bom e velho debate racional — enquanto ainda é legal, é claro. Ou você prefere votar no jantar?