Por Marcos Paulo Candeloro
Quem disse que a política internacional era apenas xadrez? Às vezes parece mais um romance de lealdades cruzadas com um toque de suspense. Em uma reviravolta fascinante da trama política americana, temos o presidente Joe Biden navegando habilidosamente por águas turbulentas com o TikTok. Apesar de suas ações legislativas recentes sinalizando um golpe contra a popular plataforma de mídia social, de propriedade da chinesa ByteDance, Biden não só continua a utilizá-la para suas campanhas, mas também parece ter o apoio sutil dos próprios interessados em Beijing para sua reeleição.
Sim, você leu certo. Enquanto o público americano é entretido com o drama de uma possível proibição do TikTok, sob alegação de que seus laços com a China podem representar uma ameaça à segurança nacional, a verdade é mais complexa e mais entranhada do que se imagine. Os laços entre o TikTok e o governo chinês são robustos, com engrenagens bem lubrificadas que operam em uma sincronia quase poética. A ByteDance, apesar de suas tentativas de demonstrar independência, possui sólidas conexões com o partido no poder na China, que vê a plataforma como um veículo influente no tabuleiro global.
Por baixo dos panos, a China tem um interesse palpável na continuação da administração Biden. A reeleição de Biden poderia garantir um ambiente estável nos quais os interesses chineses poderiam continuar a florescer sob uma diplomacia previsível, ao contrário da turbulência que uma alternância no poderia trazer. Nesse contexto, o TikTok não é apenas uma ferramenta de entretenimento e informação; é um pilar na ponte de influência cultural e política que a China deseja manter firmemente com o Ocidente.
Este enredo complexo ganha uma camada de ironia quando consideramos as acusações do Senado americano, que, justamente dias antes de endossar restrições ao TikTok, aprovou a reautorização da FISA, permitindo uma vigilância doméstica amplo. Essa dicotomia entre o medo da espionagem estrangeira e a permissão da vigilância doméstica faz pensar: qual dessas ameaças pesa mais na balança da privacidade dos cidadãos americanos?
Enquanto isso, as políticas de moderação de conteúdo do TikTok e as críticas contidas na plataforma vêm apenas adicionar tempero a esta sopa rica em contradições. Desde a censura de conteúdos críticos ao governo chinês até debates acalorados sobre ação de Israel em Gaza, o TikTok se tornou uma arena onde as batalhas de narrativas são tanto locais quanto globais.
Ao final, a saga do TikTok e os intricados laços com a China oferecem uma janela reveladora para os delicados jogos de poder e influência que definem a política internacional contemporânea. Enquanto Biden pode estar jogando o jogo com uma mão na reeleição e outra no teclado de TikTok, o verdadeiro espetáculo está nos bastidores, onde as estratégias são traçadas longe dos olhos do grande público. Que continue o show, e que os cidadãos permaneçam atentos aos movimentos dessas marionetes geopolíticas.