A cena política alemã vê-se conturbada com o crescimento da direita radical, evidenciado pelo recente desempenho eleitoral da Alternativa para Alemanha (AfD). No dia 1º de setembro, o partido emergiu como o mais votado na eleição estadual da Turíngia e conquistou o segundo lugar na Saxônia. Além disso, a AfD desponta como favorita para as eleições em Brandenburgo, um dos mais populosos estados da Alemanha. A votação neste estado ocorrerá em 22 de setembro. No entanto, o sucesso nas urnas não garante a participação da AfD nos governos estaduais, devido à necessidade de formar coalizões. Os conservadores da União Democrática Cristã (CDU) mantêm uma posição firme, com seu líder, Friedrich Merz, declarando a ausência de qualquer aliança com a AfD.
Mesmo sem participação direta nos governos, a AfD marca um feito inédito. Esta é a primeira vez que um partido de direita radical lidera uma eleição estadual na Alemanha desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A força da AfD está concentrada no leste alemão, em regiões que outrora integraram a Alemanha Oriental sob um regime comunista. Desde as eleições de junho para o Parlamento Europeu, a AfD mostrou-se fortemente competitiva nessas áreas, conquistando um terço dos votos, em contraste com o desempenho mais modesto de menos de 15% no oeste do país.
O histórico eleitoral reflete um voto de protesto, segundo estudos, motivado por um ressentimento persistente contra a antiga Alemanha Ocidental, melhor posicionada economicamente. A plataforma da AfD, no entanto, vai além dessas questões, atraindo eleitores insatisfeitos com a resposta dos partidos tradicionais a questões cruciais, como a imigração.
O aumento da chegada de imigrantes continua sendo um ponto delicado para os alemães. A recente comoção foi reacendida por um ataque cometido por um refugiado sírio, resultando em tragédias e relançando o debate nacional sobre imigração. Em resposta, o governo de Olaf Scholz tomou medidas para apertar o controle das fronteiras e começou a deportar afegãos condenados judicialmente, um passo sem precedentes desde o retorno do Talibã.
Contudo, essas ações de curto prazo não representam uma solução abrangente para o desafio do acolhimento de refugiados. Alemanha lidera em número de pedidos de asilo na União Europeia, tendo recebido 329 mil novos solicitantes em 2023, uma cifra consideravelmente superior ao segundo colocado, a Espanha.
Diferentemente de outras direitas populistas europeias que triunfaram em eleições nacionais, como na Itália e Holanda, o progresso da AfD é cauteloso, devido à sua associação com ideologias extremas. O partido e suas lideranças, como Björn Höcke e Maximilian Krah, tornaram-se motivo de inquietação devido a declarações e ações que remetem a símbolos do nazismo, acendendo alarmes não só na Alemanha, mas também em toda a Europa.
Os escândalos envolvendo a AfD, como reuniões documentadas com grupos neonazistas, reforçam o alerta sobre as reais intenções do partido. Apesar da AfD negar a incorporação de ideais radicais em sua plataforma oficial, a percepção de isolacionismo persiste, alertando sobre a influência crescente de movimentos extremistas na paisagem política europeia.