Por Sidney Cruz
• Uma Jornada Dialética de Heráclito a Hegel –
Eis que surge, em meio ao caos existencial advindo de uma guerra contra a identidade do Ocidente, essa revolução cultural que, sem armas, conseguiu mudar o mundo e destruir a essência do conservadorismo. Dessarte, um grito ecoa no ar – A ALMA DO MUNDO – Este feito da guerra no mundo das dialéticas se ergue como resistência à destruição da essência do ser.
Em Heráclito, o filósofo do movimento, viu o mundo como um rio em perpétuo fluxo. “Tudo flui” ( πάντα ῥεῖ ), dizia ele, e nesse fluxo incessante, encontramos o fogo da alma do mundo. Heráclito vai nos lembrar que o conflito são intrínsecos à existência, um dinamismo que Scruton abraça ao desafiar o mundo moderno a redescobrir sua sacralidade perdida. A dialética de Heráclito é, digamos, a busca pelo eterno no fugaz em um mar revolto pela guerra cultural.
De Heráclito, movemo-nos para Platão, que busca as formas perfeitas e eternas além do mundano. Scruton, ao falar da sacralidade, ecoa a jornada platônica pela verdade e beleza. Ele nos chama a olhar além das sombras projetadas nas paredes das cavernas modernas, a ver o mundo não apenas como matéria, mas como uma manifestação do sublime. A alma do mundo de Scruton é uma lembrança platônica de que há mais na vida do que a mera aparência. As coisas são o que são a despeito da manipulação dos sofistas na ânsia retirar a visão da realidade que é a essência do mundo.
Scruton navega, também, em uma linha aristotélica ao defender que, apesar do avanço científico e tecnológico, não devemos perder de vista o telos, o propósito maior que confere sentido à existência humana, sem discernir as causas que dão a essência ( a forma ) a alma do mundo. A alma do mundo é, para Scruton, o reconhecimento de que a busca por conhecimento deve ser pela sabedoria.
A Dialética de Hegel e o Espírito Absoluto
Avançamos para Hegel, o grande mestre da dialética histórica em busca do Espírito Absoluto se realizando no mundo. Traçando um paralelo Scruton, provavelmente uma divisão mental, peculiar de quem direta ou indiretamente se utiliza de Hegel como modelo para uma abordagem mais sistemática do comportamento humano.
em sua obra, trava uma batalha contra o espírito de sua época, evocando a dialética hegeliana para restaurar a sacralidade perdida. Ele vê a modernidade como uma tese que, em sua antítese secular, deve encontrar uma síntese que reconcilie a razão com o espírito. A alma do mundo é esse espírito absoluto que Scruton acredita estar em jogo.
No cenário contemporâneo, Scruton emerge como um cavaleiro da sacralidade, brandindo sua espada filosófica contra o materialismo avassalador. Ele desafia a narrativa dominante que vê a religião e a espiritualidade como anacrônicas, justificando que sem elas, a humanidade perde sua bússola moral e existencial. Scruton invoca a dialética para defender que a verdadeira modernidade deve integrar o sagrado, não destruí-lo. O sagrado é o elemento metafísico da construção e evolução da sociedade de onde pode-se encontrar a verdadeira comunhão com a “alma do mundo”.
“A Alma do Mundo” é um clamor pela redescoberta do sagrado em um mundo que perdeu seu rumo. Ele nos recorda que a dialética da existência não pode ser resolvida apenas pelo progresso material.
- “Sem uma procura consciente da beleza, arriscamo-nos a cair num mundo de prazeres que causam dependência e na banalização dos atos de dessacralização, um mundo em que já não se percebe bem por que vale a pena a vida humana” -.
De Heráclito a Hegel, ele traça um caminho que nos convida a reencontrar a profundidade e o significado em nossas vidas. Em meio a confusão da modernidade, ele traz uma síntese onde busca conciliar a razão e a espiritualidade, propondo uma visão de mundo em que a sacralidade não é apenas preservada, mas celebrada. E assim, como um grito no deserto cultural, Roger Scruton nos chama a redescobrir a alma do mundo, a ver além do véu da superficialidade moderna, e a abraçar a sacralidade que dá propósito à nossa existência.