Por: F.R.M. Farondae
“Nada está na realidade política de um país se não estiver primeiro na sua literatura”. A frase de Hugo Von Hofmannsthal, se mantem pertinente como um memorial à nossa consciência, além de um sinal de alerta que nos remete a uma trágica constatação. Ao invés de nos lembrarmos dos épicos heroicos, contos históricos, ou clássicos da política mundial, quando avaliamos a atual conjuntura dos acontecimentos políticos no Brasil, a imagem que nos vem a memória, se assemelha ao cenário de uma sombria distopia. Fruto do plano gramisciniano e da degradação causada pela política, a sociedade brasileira vive uma crise moral sem precedentes (que retroalimenta a tragédia política), a medida em que vai se distanciando de sua história e de sua tradição.
Como no livro 1984, a sociedade brasileira começa a demonstrar sinais de que caminha para a realidade dos membros do partido, que na obra, viviam sob a constante vigilância do sistema opressor, com a conivência e auxílio dos cidadãos “lobotomizados” pela propaganda do regime. A hospitalidade, espontaneidade, e as demais características sociais que fazem do brasileiro um povo único , aos poucos vai sendo suprimida e dissolvida na lama da desconfiança constante, e a paranoia surge como fruto da polarização política fomentada pelo sistema. O lado intolerante, capaz de ignorar os laços familiares e consanguíneos, não hesita em entregar as cabeças dos seus ao carrascos do regime, ao menor sinal de discordância ou opinião contraditória. Um culto ao cancelamento.
Durante o imbróglio da pandemia, não era incomum ver os “profetas da ciência” denunciando amigos e parentes aos agentes do estado, por exercer a livre escolha de se inocular ou não com uma droga ainda experimental, ou pelo simples fato de não querer usar as milagrosas máscaras antivírus feitas de pano. Naescalada da perseguição judiciaria no período eleitoral, os amiguinhos do regime passavam o dia averiguando as opiniões alheias nas redes sociais, marcando os perfis dos tribunais superiores, ministros, e órgãos policiais, em publicações com opiniões contraditórias. A revolução fomenta o que há de pior no ser humano, e os exemplos acima demonstram que a sociedade policialesca pensada por Orwell nas páginas de 1984, vai tornando-se real em nossos dias, e elementos da ficção que pareciam surreais em sua época, agora estão a um click de distância.
Infelizmente para os cidadãos comuns, amantes da liberdade, a escolha de nosso círculo social deixou de ser uma simples questão de afinidade, e a ideologia política se tornou um filtro pala análise de caráter. Como na distopia de Orwell, os amantes do regime sabiam mesmo que de maneira subjetiva, de toda a crueldade implícita nas ações do partido contra as vozes dissidentes, e no Brasil de hoje, após quinze anos de governos esquerdistas, alguém que seja a favor do “modus operandi” da turma vermelha, não pode ser chamado de outro adjetivo que não seja o de “cúmplice”. Nosso círculo social precisa ser reavaliado constantemente, sabendo que a tolerância poderá ser recompensada com a traição.
O esquerdismo brasileiro se tornou uma doença perigosa, com a mesma intensidade que a devoção maligna nutrida pelos membros do partido ao Grande Irmão, e qualquer um que ignore esse fato, corre o risco de ser engolido no processo. Como em 1984, no Brasil de 2024, já não se pode confiar em quase ninguém.